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Fonte hídrica perde força e deve cair para 35% da matriz elétrica até 2050, diz EPE

O Brasil reduziu fortemente a expectativa para expansão da geração hidrelétrica de energia e agora vê uma importante queda da participação dessas usinas na capacidade instalada do país nas próximas décadas, em contraste com um acelerado crescimento esperado para as fontes eólica e solar, segundo dados de estudo inédito do governo vistos pela Reuters.

As projeções do governo apontam para um cenário em que a geração de eletricidade pela fonte hídrica representará cerca de 35 por cento da capacidade em 2050, ante os 61 por cento atuais.

Os dados constam de material da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), órgão de planejamento do Ministério de Minas e Energia.

As fontes solar e eólica, enquanto isso, deverão disparar para quase 30 por cento da matriz elétrica em 2050, frente aos cerca de 6 por cento agora.

Os números são preliminares e fazem parte do Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), ainda em desenvolvimento na EPE, que marcará uma significativa guinada frente ao planejamento de longo prazo anterior, que ia até 2030 e apontava para um forte crescimento da geração hídrica.

Para 2030, o PNE 2050 prevê que as hídricas representem cerca de 55 por cento da capacidade instalada de geração de eletricidade no Brasil. O plano anterior apontava para quase 70 por cento de energia via fonte hídrica naquele mesmo ano.

Para o professor Edmar de Almeida, do Grupo de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ficou mais caro e difícil construir hidrelétricas no Brasil desde que o último plano de longo prazo do setor foi lançado, em 2007.

“As bacias hidrográficas que ainda não foram exploradas estão na região amazônica, em áreas de alta sensibilidade ambiental, e também a aceitação social dessas usinas no Brasil vem caindo… Hoje há uma grande dificuldade em desenvolver projetos hídricos”, afirmou.

Ao mesmo tempo, destacou o professor, existe uma tendência mundial de queda dos preços e desenvolvimento tecnológico de novas fontes renováveis de energia, como a solar e a eólica, além de usinas à biomassa.

Com isso, a visão das usinas hídricas como forma mais econômica de geração que guiou a expansão nos últimos anos faz cada vez menos sentido, segundo Almeida.

“Quando a gente incorpora os custos dos atrasos, dos conflitos, da mitigação ambiental, da transmissão, porque essa energia está longe, não é mais tão vantajoso assim. E é um risco muito grande para os empreendedores”, afirmou.

Em entrevista recente à Reuters, o presidente da elétrica francesa Engie no Brasil, Mauricio Bahr, comentou que prevê que o país deverá apostar em projetos menores que as mega hidrelétricas construídas nos últimos anos, em parte devido às dificuldades enfrentadas nesses projetos.

A Engie é acionista da usina de Jirau, que está sendo concluída em Rondônia, mas ainda tem seus sócios brigando com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na Justiça para evitar penalidades por um atraso decorrente de greves e depredações no canteiro de obras da hidrelétrica.

“Acho que a experiência desses grandes projetos não foi boa… Do ponto de vista do investidor foi muito doloroso o investimento”, afirmou, em referência à disputa judicial relacionada a Jirau.

Procurada, a EPE não comentou de imediato sobre o PNE 2050.

 

Foto: Reuters | Luciano Costa

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