Número representa cerca de 12% do total de emissões de CO2 anuais no Brasil
Andréia Vital / Jornal Cana
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Um estudo inédito da CCS Brasil, organização sem fins lucrativos que visa estimular as atividades ligadas à Captura e Armazenamento de Carbono no país, aponta que o Brasil possui um potencial de captura de CO2 que pode chegar a quase 200 milhões de toneladas por ano, o que representa cerca de 12% do total de emissões de carbono no Brasil anualmente.
“Se o país conseguir de fato colocar esses projetos de descarbonização em prática, isso o colocaria entre os líderes mundiais na captura de carbono e no combate ao aquecimento global”, explica Nathalia Weber, engenheira e cofundadora da CCS Brasil.
Os dados, que fazem parte do 1º Relatório Anual de CCS no Brasil, também apontam setores e regiões mais emissores e aqueles com maior potencial para a captura e armazenamento de carbono.
Setores
O documento aponta que o potencial para a redução de emissões por projetos de CCS está relacionado especialmente às atividades nos setores de energia e indústria. Apenas no Brasil esses setores emitem quase 500 milhões de toneladas de CO2 ao ano.
Outro importante destaque para captura de carbono é a produção de bioenergia, cuja aplicação de CCS pode levar à remoção de carbono da atmosfera. O estudo mapeou a oportunidade de captura de quase 40 milhões de toneladas aplicadas a esses processos chamados de BECCS, que une a aplicação de CCS à bioenergia.
“Todas as indústrias que utilizam combustíveis fósseis em seu processo produtivo ou que precisam de combustível de alta densidade energética possuem mais dificuldades para diminuir as suas emissões. É o caso de siderúrgicas, cimenteiras, indústrias químicas e refinarias. Por isso, as tecnologias de CCS são reconhecidas como uma das principais ferramentas para descarbonização de processos industriais, principalmente quando se busca alternativas para o parque industrial existente”, explica Nathalia Weber, engenheira e cofundadora da CCS Brasil.
De acordo com dados do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), a indústria brasileira emite um total de 85 milhões de toneladas de CO2 em 2021 (5,2% das emissões totais), especialmente na Região Sudeste e com maior contribuição por parte do estado de Minas Gerais.
Apenas o setor de produção de metais correspondeu a quase 70% das emissões dos processos industriais. Os processos de CCS são aplicáveis aos principais segmentos emissores, liderados pela produção de metais, segundo o relatório da CCS Brasil.
“Já as emissões do setor de energia estão relacionadas principalmente à geração de eletricidade em termelétricas, utilização de energia na indústria e produção de combustíveis fósseis, como petróleo e derivados, gás natural e carvão mineral. Apesar de ser conhecido por ter uma matriz energética limpa, os combustíveis fósseis representaram 53% da oferta de energia do país em 2021”, ressalta Nathalia.
Ao todo, o setor de energia emitiu mais de 400 milhões de toneladas de CO2 em 2021 (25% do total) no país, sendo quase metade (47%) apenas na região Sudeste, de acordo com o SEEG. O potencial para a captura de CO2 no setor chega a 130 milhões de toneladas por ano provenientes de combustíveis fósseis, ou seja, 32% do total de emissões nesse setor. O número ainda representa 8% do total de emissões considerando todos os segmentos. Os segmentos com maior adequação para implementação de projetos de CCS incluem a geração de energia, aplicações industriais e produção de combustíveis.
“Para além do potencial de descarbonização, o CCS também pode ser uma tecnologia de remoção de carbono quando atrelada à produção de bioenergia (BECCS), como para a produção de etanol, biometano e outros processos de geração de energia a partir de biomassa. O Brasil possui um dos maiores potenciais para BECCS do mundo, dada a sua tradição e participação no mercado de etanol, além do potencial ainda pouco explorado para biogás em seu território. Com isso, o Brasil também pode se tornar uma referência nas tecnologias de BECCS, além de atuar para a sua descarbonização”, ressalta Nathália. Para além de BECCS, outras possibilidades do CCS também estão representadas pela produção de hidrogênio e pela captura direta do ar com armazenamento em formações geológicas de grande profundidade.
Regiões
Segundo o documento da CCS Brasil, entre as regiões brasileiras, a Sudeste é aquela com maior potencial de captura, com mais de 48% das oportunidades de captura de CO2. Apenas o estado de São Paulo possui um volume próximo a 40 milhões de toneladas de gás carbônico com potencial para CCS (20%).
Ao se considerar apenas o potencial para captura para a produção de bioenergia (BECCS), as regiões Sudeste e Centro-Oeste concentram as principais fontes de bioenergia, com 87% do volume total. Nesse sentido, o estado de São Paulo também lidera o potencial de capturar mais de 15 milhões de toneladas de CO2 por meio de BECCS. 60% desse valor é oriundo de plantas de etanol.