Hidrogênio verde tem potencial de “limpar” indústria do aço — com o Brasil em papel de destaque, aponta estudo alemão

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O combustível, livre de carbono, pode alimentar o processo de fabricação “aço verde” para chapas, vergalhões e outros produtos – que teriam maior valor agregado

Marco Britto | Portal Um Só Planeta
Link para a matéria: https://umsoplaneta.globo.com/energia/noticia/2023/06/26/hidrogenio-verde-tem-potencial-de-limpar-industria-do-aco-e-brasil-tem-papel-de-destaque-aponta-estudo-alemao.ghtml

Se a indústria siderúrgica mundial fosse um país, suas emissões somariam os gases de efeito estufa produzidos por China e Estados Unidos combinados, cerca de 40% do total global. Com tamanho potencial para acelerar as mudanças climáticas e suas consequências, o setor precisa mudar radicalmente para manter-se dentro de metas compatíveis com os 1,5°C de aquecimento global acordados em Paris, em 2015, e com isso, levar o mundo a reboque.

A atual década pode ser considerada uma encruzilhada: até 2030, cerca de 71% das plantas movidas a carvão e outros combustíveis fósseis vão chegar ao término de suas vidas úteis, devendo ser reformadas ou substituídas. Manter o modelo atual joga os planos de uma indústria “limpa” por água abaixo. Sendo assim, quais são os caminhos possíveis para esta reformulação colossal em busca do net zero até 2040?

Na visão de um novo estudo alemão, a resposta pode ser resumida em duas palavras: hidrogênio verde. O combustível, livre de carbono, pode servir para alimentar a fundição do minério de ferro em vergalhões, produzindo assim um “aço verde”, potencialmente livre de emissões em sua produção (sem contar aqui emissões secundárias e terciárias, ocorridas na produção da matéria-prima e operação de empresas parceiras, o que coloca desafios à parte).

A pesquisa do think tank Agora Industry, em conjunto com o Wuppertahl Institute, “15 insights para a transformação global do aço” (tradução livre), defende que, em vez de se concentrar em exportar hidrogênio verde puro, países como o Brasil, segundo maior produtor de minério de ferro do mundo (22% de participação no mercado), com um campo promissor na produção de energia limpa, deveriam incorporar a matriz energética livre de carbono aos seus produtos, tornando-se exportadores do aço com o valor agregado “verde”.

Um dos argumentos colocados seria de que a exportação do hidrogênio puro está sujeita a muitas perdas envolvendo transporte e acondicionamento, algo que não ocorre na mesma escala com vergalhões de aço, por exemplo. Para os importadores, a vantagem estaria em obter matéria-prima “verde” para suas indústrias, sem a necessidade de investimento em plantas de produção de hidrogênio verde, algo não tão simples em muitos países. Na projeção do grupo de pesquisa alemão, empregos atuais seriam mantidos, com um acréscimo de 250 mil novos postos no mundo.

Em comparação com o cenário em que esses países exportariam minério de ferro e hidrogênio e seus derivados por navio, a exportação de ferro verde poderia permitir um ganho de cerca de 16% em empregos empregos locais e um aumento de 18% no valor agregado, afirma a pesquisa.

“De acordo com nossa análise, siderúrgicas são mais propensas a considerar a importação de hidrogênio incorporado na forma de ferro verde – uma opção significativamente mais barata. Essa visão sugere que a demanda por importações de ferro verde pode aumentar em comparação com as importações de hidrogênio. Explorar essa ideia pode contribuir para a economia dos países exportadores e representar uma oportunidade valiosa para o Brasil”, avalia o autor principal do estudo, Wido Witecka, em conversa com Um Só Planeta.