Fabricantes de equipamentos para energia eólica têm concedido generosos descontos para conseguir fechar contratos de fornecimento no Brasil após dois anos de queda no consumo de energia e baixo volume de contratação de novas usinas da fonte, afirmaram à Reuters executivos de grandes companhias.
Em meio à maior recessão em décadas, o país ainda não tem perspectivas de contratar mais parques eólicos, o que gera pressão sobre diversos fabricantes, incluindo grandes players globais, que nos últimos anos investiram em fábricas no Brasil para atender um mercado que parecia fortemente promissor.
O Brasil contratou 13 gigawatts em usinas eólicas entre 2009 e 2014, mas em 2015 apenas 1 gigawatt foi contratado e em 2016 não houve nenhuma licitação voltada ao setor. Assim, como a maior parte dos projetos fecha pré-acordos com fabricantes, existem atualmente poucos negócios para vendas de turbinas a serem disputados pela indústria.
Para conseguir baixar preços, as fabricantes de turbinas eólicas têm renegociado contratos com subfornecedores, como produtores de componentes que fazem parte das máquinas.
“Minha cadeia de fornecedores está desesperada, e eles estão praticando descontos muito fortes. Essa agressividade da indústria, aliada à queda do dólar e à evolução da tecnologia, levou a reduções de 15 a 20 por cento no capex (investimento) comparado a alguns anos atrás”, disse à Reuters o diretor de vendas de renováveis para América Latina da norte-americana GE, Sérgio de Souza.
Ele afirmou que o cenário possibilita a construção de eólicas a um custo de menos de 5 milhões de reais por megawatt, próximo do praticado no país em 2009.
Um movimento semelhante acontece na catarinense WEG, que entrou no setor eólico em 2010 e também reduziu significativamente os preços em seu último negócio, uma licitação da estatal Furnas, da Eletrobras, na qual a empresa foi a única qualificada, embora o processo ainda não tenha sido encerrado.
“Com o mercado apertado, a WEG optou por participar com margens um pouco mais apertadas, mas ainda satisfatórias… contamos com ganhos de produtividade e renegociações com fornecedores. Como estamos no topo da cadeia e fomos achatados, vamos ter que participar desse esforço junto com nossa cadeia de fornecedores”, disse o diretor da empresa para o segmento eólico, João Paulo Gualberto.
Ele disse que o negócio envolve 132 turbinas de 2,2 megawatts cada, mas não citou valores.
Outras fabricantes procuradas pela Reuters não responderam pedidos de comentários sobre a situação do mercado eólico brasileiro.
Além de WEG e GE, atuam no Brasil as espanholas Gamesa e Acciona, a dinamarquesa Vestas e a alemã Wobben Enercon.
POUCOS PROJETOS
O diretor da consultoria Aezea Energias Renováveis, Marcio Elizeu Machado, avalia que os fabricantes possuem capacidade produtiva bem maior que a atual demanda, uma vez que existem hoje poucos empreendimentos ainda em busca por equipamentos no Brasil.
“Desconto é um sinal de que a indústria não está vendo possibilidade de ter demanda suficiente para fechar a capacidade fabril deles nos próximos anos”, afirmou.
“O mercado de energia eólica a partir de 2014, com a crise, e mais acentuadamente a partir do início de 2016, praticamente parou… a perdurar uma situação dessa, só os mais fortes vão ficar”, complementou o consultor.
Segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Brasil tem 7,7 gigawatts em eólicas contratadas a serem construídas até 2021, mas os especialistas avaliam que há poucos empreendimentos que ainda não fecharam a compra de máquinas com fornecedores.
Para Gualberto, da WEG, outro problema é que boa parte das poucas usinas que ainda não fecharam contratos de fornecimento possivelmente nunca o farão devido a problemas como atrasos ou falta de viabilidade econômica dos empreendimentos.
“Tem alguns projetos ‘na rua’ com aerogeradores não contratados que estamos buscando (negociar). Alguns projetos são relativamente interessantes, e outros possivelmente nunca sairão do papel”, disse.
A situação, inclusive, levou o governo brasileiro a avaliar a realização de uma licitação inédita, que possibilitaria aos investidores desistir de projetos de usinas que enfrentam problemas de viabilidade.
O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, tem dito que essa eventual descontratação e um estudo sobre a oferta e a demanda de energia deverão possibilitar uma avaliação ainda no primeiro semestre sobre a necessidade de se contratar mais usinas no país.