Responsável por 42% da potência instalada no Ceará, os 56 empreendimentos eólicos têm capacidade para produzir 1,5 GW. Hoje, estão em construção outros 17 parques no Estado, com potência de 391 MW, além de 33 parques com construção não iniciada com potência de 722,4 MW, segundo dados da Aneel. Quando os empreendimentos contratados estiverem em operação, o setor passará a ser a principal matriz energética do Estado, ultrapassando a térmica.
E, em períodos de estiagem como o atual, o papel das eólicas será cada vez mais importante. “Precisamos enfatizar as fontes que não utilizam água, utilizando recursos abundantes de cada região. E não há dúvida de que o Nordeste é uma potência eólica”, diz Jean-Paul Prates, diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne). Para ele, é preciso acabar com o “mito” de que a geração eólica é intermitente.
“Uma só usina pode até ser, mas um conjunto de usinas, dentro de um sistema, tem uma produção regular. O Nordeste bate recordes de produção eólica, então não podemos mais dizer que se trata de uma energia alternativa. É consolidada”, diz Prates, que já foi secretário de Estado de Energia do Rio Grande do Norte.
A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, destaca que as eólicas já atendem 30% do Nordeste, “o que é algo considerável uma vez que até pouco tempo nós nem tínhamos eólicas no Brasil”. No entanto, ela diz que as eólicas ainda não são suficientes para atender a demanda regional e que em períodos hidrológicos ruins, como o atual, o sistema interligado não pode prescindir das térmicas para ficar em equilíbrio.
“É preocupante a crise hídrica, não só no Ceará, mas no Nordeste como um todo. A situação é séria e deve perdurar. Com isso, o custo para as térmicas fica de fato mais alto e desequilibra a geração, porque precisam ser remuneradas de forma adequada”, afirma Elbia.
Expectativa
Para 2017, com a expectativa de recuperação da atividade econômica, ela diz que o setor espera a realização de bons leilões para o setor. “Esperamos a retomada dos leilões tanto de geração como de transmissão, que não ocorreram neste ano”, ela diz. “Para o ano que vem, com a perspectiva de melhora econômica, a gente trabalha com a expectativa de 2GW nos leilões”.
Com relação às linhas de transmissão no Ceará, que vinham sendo um dos gargalos para o setor, Gannoum diz que o Estado apresenta uma vantagem competitiva em relação ao Rio Grande do Norte. “O problema hoje é bem menor. O Ceará tem disponibilidade de linhas de transmissão para participar já do próximo leilão, em dezembro deste ano”, afirma.
No mundo
Até 2030, as fontes de energia eólica podem chegar a 20% de toda matriz energética mundial, segundo estimou o Global Wind Energy Council (GWEC) em seu relatório bienal sobre o futuro da energia eólica no mundo: “Global Wind Energy Outlook 2016”, divulgado pela Abeeólica. No cenário mais otimista traçado pelo estudo, a energia eólica pode chegar a uma potência instalada de 2.110 GW até 2030. O relatório analisa quatro diferentes cenários explorando o futuro da indústria até 2020, 2030 e 2050.
Na estimativa para 2030 é estimado que o setor eólico irá criar 2,4 milhões de novos empregos, reduzindo emissões de CO2 em mais de 3,3 bilhões de toneladas por ano, além de atrair investimentos anuais da ordem de 200 bilhões de euros. Considerando a queda de preço nos anos recentes para energia eólica, solar e outras renováveis essas matrizes ficarão ainda mais competitivas.
De acordo com o secretário-geral GWEC, Steve Sawyer, a energia eólica já é a opção mais competitiva para adicionar nova capacidade à matriz elétrica em muitos mercados em crescimento, como os da África, Ásia e América Latina. Ele destacou que com a entrada em vigor do Acordo de Paris, será possível acabar com plantas de energia de combustíveis fósseis e substitui-las por eólica, solar, hídrica, geotérmica e biomassa.
Os resultados apontam como a indústria eólica deve se comportar em termos de fornecimento de energia mundial, redução de emissão de CO2, geração de empregos, redução de custos e atração de investimentos.
‘Cada região deve encontrar uma solução apropriada’
Diante do problema gerado para o setor elétrico em decorrência da falta de água, o diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean-Paul Prates, diz que a tendência é que se busque, cada vez mais, aproveitar as vocações de cada região para a geração de energia. “No Nordeste brasileiro, no norte da África, como em outras partes do planeta, há essa questão da água. E isso não é de agora, é um problema histórico. Então nós achamos que cada lugar tem que encontrar uma solução apropriada”.
Para Prates, o desafio hoje é saber até que ponto a tecnologia pode ajudar no aproveitamento sustentável e economicamente viável dos potenciais energéticos de cada local, como a força das marés, dos ventos, da luz solar, de biomassa, dentre outras. “A próxima era será da energia local. De aproveitar as fontes próximas, tudo aquilo que esteja ao seu alcance”.
A ideia, diz Prates, é replicar esse conceito tanto seja em uma cidade, uma indústria, ou em uma residência. “Na perspectiva doméstica, se sua casa for capaz de gerar energia para ela mesma, você está cumprindo sua parte. Isso se dá numa dimensão local, regional e nacional. Quanto mais cada um poder fazer para suprir energia ou ser eficiente, menos problemas em nível nacional você vai ter”, ele diz.
Na avaliação de Prates, não faz sentido instalar uma termelétrica que consome grandes volumes de água em um estado que sofre com a seca, a não ser que se busque, por exemplo, soluções como a dessalinização da água do mar. No entanto, as próprias termelétricas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) se instalaram na região, dentre outros fatores, pela facilidade de acesso ao carvão mineral que chega pelo porto.
Simpósio
A geração sustentável de energia será um tema discutido no 1º Simpósio Brasileiro Sobre o Futuro da Energia, que será realizado pelo Cerne no dia 24 de outubro, em Fortaleza. O evento terá como tema o futuro da energia, desde a sua geração a partir de fontes renováveis até seu consumo de forma sustentável.
“O Ceará tem um enorme potencial eólico e solar, mas hoje a maior parte da matriz elétrica do Estado é das térmicas. No Brasil a fonte é predominantemente hídrica, mas no Nordeste os reservatórios não estão dando conta. Então, precisamos discutir outras formas de geração, do que pode ser feito de imediato. Isso demanda investimentos, mas a gente precisa estabelecer uma política energética. O ideal é que cada estado tivesse uma política definida”, diz Milton Pinto, diretor Setorial de Engenharia e Infraestrutura do Cerne.
Segundo estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do Ministério de Minas e Energia, Até 2050, a demanda de energia elétrica deverá triplicar no Brasil. (BC)
Fonte: Diário do Nordeste