A aposta de US$ 3 bi da Chevron em biocombustíveis

Share on facebook
Share on google
Share on twitter
Share on linkedin

Sob pressão de acionistas ativistas, executivos da petroleira americana não abrem mão do crescimento em óleo e gás

Valor Negócios | Manuela Tecchio

Na mira de investidores ativistas que questionam o engajamento da Chevron na redução das emissões de carbono, a petroleira americana anunciou nesta segunda-feira uma aposta bilionária nos biocombustíveis — biodiesel e o diesel verde (HVO).

A Chevron chegou a um acordo para adquirir a Renewable Energy Group, uma das maiores indústrias de biodiesel dos Estados Unidos, em um transação de US$ 3,1 bilhões. Trata-se do maior M&A de baixo carbono da gestão de Mike Wirth, que assumiu como CEO há quatro anos, disse a Bloomberg.

A aquisição ocorre na esteira das promessas da Chevron por mais investimentos em baixo carbono, uma estratégia que ainda enfrenta críticas. A major, que já foi citada como a segunda maior emissora de CO2 do mundo — perdendo apenas para a Saudi Aramco —, declarou em setembro que investirá US$ 10 bilhões até 2028 para reduzir as emissões de carbono, o triplo do que imaginava inicialmente.

Com a promessa de investimentos em baixo carbono, a Chevron tenta responder às pressões dos investidores que, em maio passado, obrigaram a companhia a fazer uma proposta que contemplasse a redução das emissões de carbono do chamado escopo 3 — o mais importante, por incluir a poluição do combustível que vende aos consumidores.

Além de mais investimentos em baixo carbono, a Chevron também fez um primeiro anúncio relacionado ao escopo 3 em outubro. A petroleira prometeu reduzir essas emissões em 5% até 2028, mas a metodologia adotada foi muito criticada. A companhia adotou a intensidade de carbono por unidade como métrica. Na prática, as emissões totais poderiam até aumentar.

“As medidas de intensidade são muito importantes porque apontam para quem são os mais eficazes”, disse Bruce Niemeyer, vice-presidente de sustentabilidade da Chevron, em uma entrevista ao Financial Times no ano passado.

Nessa toada, a Chevron vem recusando uma abordagem que leve à redução da produção de óleo e gás — pelo contrário — com uma estratégia que concentra os esforços e o discurso no ganho de eficiência energética e no retornos financeiro aos acionistas.

“Acreditamos que uma estratégia que combine um negócio tradicional de alto retorno e baixo carbono com novas energias lucrativas e de crescimento mais rápido nos posiciona para entregar valor de longo prazo aos nossos acionistas”, justificou o CEO da Chevron, no ano passado.

A aquisição da Renewable Energy, recém-anunciada, parece ir exatamente nessa direção. A Chevron está pagando US$ 61,50 por ação, o que embute um prêmio de 57% sobre a média das cotações dos papéis da firma de biocombustíveis nos últimos 30 dias, mas o negócio deve ficar mais barato quando se considera os ganhos de sinergia.

Numa apresentação a investidores, a Chevron disse que a aquisição saiu a um múltiplo (EV/Ebitda) próximo de 10 vezes. Com as sinergias imaginadas, o indicador cai pela metade em 2025. A petroleira estima que os ganhos de sinergias ficarão entre US$ 50 milhões e US$ 10 milhões anuais.

Nas projeções da Chevron, a Renewable Energy será capaz de entregar um Ebitda entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões em 2025. No acumulado de 2021 até setembro, a companhia de biocombustíveis faturou quase US$ 2,4 bilhões, com um Ebitda de US$ 215 milhões e um lucro líquido de US$ 159 milhões.

Com operações nos Estados Unidos e também na Alemanha, a Renewable Energy será fundamental na estratégia da Chevron de produzir 100 mil barris de combustíveis renováveis por dia até 2030, respondendo por quase 50% do total.

A Chevron vale US$ 277,6 bilhões em bolsa.