A empresa 3R Petroleum e Participações Ltda., selecionada pela Petrobras para operacionalizar 34 campos maduros de produção de petróleo no Riacho da Forquilha, no Oeste potiguar, tem capital social 303,24 vezes menor que o valor da transação que envolve a cessão dos campos. Conforme dados extraídos da Receita Federal, a 3R Petroleum é enquadrada no porte de ME (microempresa), formada por dois sócios (Ricardo Rodrigues Savini, sócio-administrador; e Daniel Annucaro Lassance Soares, sócio). O capital social informado é de R$ 5.935.838,00. O valor da transação com a Petrobras, que depende de repasse de 7,5% no ato da assinatura do contrato marcado para o próximo dia 7, foi de R$ 1,8 bilhão. O caso chamou atenção de especialistas ligados ao setor.
“Eu não tenho detalhes sobre os sócios, sobre a empresa em si. É uma empresa sem histórico na área de produção de petróleo e não é associada à ABPIP”, declarou o secretário executivo da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo (ABPIP), Anabal Santos. Questionado sobre o processo que deu origem à escolha da 3R Petroleum como a beneficiada com a cessão dos campos, Santos destacou que a Petrobras cometeu falhas. “Foi um processo mal conduzido. Nós alertamos a Petrobras diversas vezes. Não nos parece razoável que uma empresa faça uma oferta 300 vezes maior que seu patrimônio. É um valor muito elevado”, frisou.
Ainda conforme disposto nas informações da empresa junto à Receita Federal, consta uma alteração cadastral datada de 14 de novembro deste ano. Das 14 atividades econômicas descritas no Cadastro Nacional da Pessoas Jurídica (CNPJ), consta a de que a 3R Petroleum atua nas “atividades de apoio à extração de petróleo e gás natural”. Adiante, consta que também atua com “reparação e manutenção de computadores e de equipamentos periféricos”. Uma fonte da TRIBUNA DO NORTE ligada à Petrobras informou que a 3R Petroleum e Participações Ltda. foi constituída há pouco tempo e com o objetivo específico de participar do processo de cessão dos campos terrestres maduros.
No site da empresa (https://3rpetroleum.com/) com versões em inglês e português, consta a informação de que é “uma empresa de Petróleo e Gás recentemente criada com sede no Rio de Janeiro, Brasil, especializada na explotação de campos terrestres, com experiência em implantação de projetos de otimização da produção, estudos de reservatórios e aplicação das melhores práticas da indústria para o gerenciamento de cada campo”. A reportagem tentou contato com a empresa, mas não consta nenhum número telefônico disponível no referido endereço eletrônico.
Repercussão
No Rio Grande do Norte, o anúncio da empresa gerou repercussão entre especialistas e economistas. O diretor-presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE), Jean Paul Prates, usou as redes sociais para criticar a Petrobras. “O ciclo de petróleo no RN está fraquejando há tempos, em virtude de teimosias e experiências quanto à formação de empresas locais para suceder a @petrobras. Não temos mais tempo para erros. Fornecedores, trabalhadores e o Estado não podem estar inseguros quanto ao futuro do setor”, escreveu. Noutra postagem, ele destacou que a Agência Nacional de Petróleo deve investigar o caso sob pena de “prevaricação”.
O economista José Aldemir Freire também recorreu às redes sociais para questionar a cessão dos poços. “Eles fizeram uma modificação no último dia 14/11. Eventualmente podem ter entrado novos sócios. Ou eles tem uma engenharia financeira com algum grupo grande. O volume de recursos para recuperar esses campos não é pequeno. Além do R$ 1,8 bilhões na aquisição, terão que investir um valor considerável para aumentar o nível de recuperação do petróleo. Não justifica uma empresa com zero histórico fazer essa aquisição. É um risco”, argumentou.
A Petrobras foi procurada para comentar o processo de seleção, mas não respondeu aos questionamentos enviados pela reportagem. “O mercado não conhece o edital. Não sabemos quais são as consequências se a empresa não honrar o contrato. Poderia ter sido um processo melhor”, disse Anabal Santos.
2. A empresa vencedora da licitação para exploração dos 34 campos maduros do Riacho da Forquilha, no Rio Grande do Norte, possui capital social de R$ 5,9 milhões conforme informações da Receita Federal. Como a Petrobras avalia o lastro financeiro das concorrentes a esse tipo de operação para escolher a ideal?
3. A empresa escolhida possui expertise na exploração de poços de petróleo maduros? De que forma ela confirmou isso à Petrobras?