Temas como inflexibilidade, fim de contratos e atuação com renováveis continuam no centro das discussões
A diretora de regulação da Eneva, Camila Schoti, acredita que uma maior previsibilidade no despacho das usinas térmicas traria uma maior otimização nos investimentos de exploração e produção de gás. Segundo ela, há uma incerteza no setor de gás de encontrar o insumo e uma incerteza no setor elétrico que é a quantidade do despacho ao longo do contrato. Um contrato térmico pede 100% de despacho durante toda a sua duração, algo improvável de acontecer. Ela sugere uma média móvel, que ao invés de pedir um despacho de 100% todo o tempo do contrato, em que adote a totalidade do despacho nos anos iniciais e depois ela seja reduzida para algo em torno de 70%.
De acordo com ela, os números dessa proposta preliminar podem mudar, mas o importante é que a alteração deixe os projetos em condições iguais de disputa. “Está se falando em um mecanismo de leilão que possa ser aplicado para todo mundo e que nos permita dimensionar o investimento em exploração e produção”, explica. Essa discussão começou no Gás para Crescer e a diretora da Eneva – que participou de painel sobre a abertura do transporte brasileiro de gás natural no último dia 26 de setembro – quer retomar o debate. Sua execução não precisaria ser por força de legislação e poderia ser por medida infralegal.
Na visão de Marcelo Cruz Lopes, gerente executivo de Gás Natural da Petrobras, o entendimento entre os setores de gás e elétrico deve prevalecer. Segundo ele, não adianta o setor elétrico querer que o de gás se ajuste a ele e vice-versa. “Ambos devem ter boa vontade se não, não se resolve nunca a integração”, ponderou ele em painel sobre o Novo ambiente para contratação da geração térmica a gás no dia 27. Ele alertou sobre o fim do contrato de um volume expressivo de térmicas a partir de 2022 – cerca de 50% – e que a recontratação delas é difícil devido ao desenho do modelo atual. A estatal propôs que os leilões de energia nova e existente sejam unificados, o que daria condições melhores de competição e êxito. “As regras de contratação hoje levam a uma situação de dificuldade dessas térmicas se manterem ao fim dos seus PPAs”, avisa.
A possibilidade de fim da diferenciação entre energia nova e existente está inserida na CP 33, segundo Lopes, mas estava condicionada a separação entre o lastro e a energia, o que a Petrobras discorda. O gerente da Petrobras também salientou que há um excesso de regulação nos dois setores, com característica de intervenção. Ele pede mais flexibilização nas regras para que haja mais competição. “São regras criadas no modelo com o sentido de intervir na competição”, aponta.
Com gás vindo da camada pré-sal, a UTE Vale Azul, que tem a Shell como uma das sócias, surpreende pela alta expectativa de despacho. De acordo com Guilherme Perdigão Nascimento, vice-presidente da Shell Energy do Brasil/ Vale Azul, que participou do mesmo painel que Lopes, o conceito do projeto foi o de olhar as oportunidades de negócio de forma integrada, entendendo a cadeia de valor. “Ter uma comercializadora foi uma dessas maneiras”, observa.
Para ele, o principal desafio para o gás associado é a demanda contínua e o setor elétrico tem o paradigma de o gás natural ser despachado. Ele também coloca a harmonização entre gás e energia como necessária. Segundo Nascimento, o setor elétrico já é completamente consolidado e o de gás ainda não. “Se não atuar de forma integrada, acaba tendo uma inconsistência importante”, revela.
Em palestra na TechWeek, evento paralelo a feira no dia 26, Gregório Maciel, Gerente Setorial de Estudos de Mercado da Petrobras, apresentou boa perspectiva para o gás natural no país, principalmente devido a inserção das fontes renováveis na matriz brasileira. Segundo ele, não há rivalidade entre as fontes e a expansão do gás no mundo vai ocorrer em um bloco de países como China, Estados Unidos e alguns da Europa que estão se descarbonizando e em outros como o Brasil, em que ele será usado como back up das fontes renováveis. Maciel disse ainda que a velocidade da transição energética vai variar de acordo com a intensidade das políticas públicas para o tema.
Fonte: Canal Energia | Pedro Aurélio Teixeira