(Tradução livre da matéria original de Alexandre Spatuzza e Gareth Chetwynd publicada na Recharge News de 08 de agosto de 2018)
A mesa-redonda Recharge Thought Leaders Roundtable debateu como a energia eólica pode enfrentar os desafios do setor de energia em mudança se a indústria e governo tiverem suas estratégias certas.
“A energia eólica está preparada para liderar a transição energética no Brasil – contanto que a indústria invista em inovação e o governo mude os regulamentos para enfrentar os desafios que o crescimento das energias renováveis criou para o setor de energia do país.
Essas foram as principais conclusões da Mesa Redonda Recharge Thought Leaders Roundtable, organizada pela Recharge no Rio de Janeiro em parceria com a Associação Brasileira de Energia Eólica ABEEólica e com a participação de líderes do setor.
“As necessidades do mercado são a claras: precisamos fornecer energia mais acessível e confiável para todas as categorias de consumidores”, disse Xuan Liang, gerente geral da fabricante chinesa Goldwind para a América Latina.
Na opinião de Liang, os desafios enfrentados pela energia eólica e outras tecnologias renováveis refletem uma crescente tendência no setor energético de migrar de uma geração grande e centralizada com um planejamento e gerenciamento de redes para um sistema de redes de menor escala, com usinas localizadas mais perto dos consumidores finais, assim como a integração com outras tecnologias de geração.
Esta 4a Edição da BWP Thought Leaders Roundtable realizada pela Recharge no Rio, com patrocínio da Goldwind e da UL, ocorre num momento em que energia eólica se tornará a segunda principal fonte de energia do país – com pouco menos de 14GW instalados, ou 8,5% do total – superando o gás natural e perdendo apenas para a hidrelétrica.
“Eólicas irão liderar o processo? Sim, especialmente no Brasil ”, concluiu Liang. Segundo o executivo da Goldwind, isso se deve principalmente aos bons recursos eólicos que o país possui.
O economista Luciano Coutinho, outro membro do painel da Thought Leaders Roundtable, líder da consultoria LCA e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), disse que esses recursos são um bom ponto de partida e acredita que a energia eólica pode dobrar de tamanho, e alcançar facilmente os 30GW em 2025”.
Mas ele acrescentou que haverá uma corrida para a indústria melhorar a produtividade, à medida que o setor industrial cresce e se move para uma era de big data e digitalização.
“O futuro das usinas eólicas será, até certo ponto, customizado para maximizar a eficiência com a aplicação de modelos computacionais de alto desempenho baseados em big data e poderosos algoritmos matemáticos”, disse ele.
Coutinho ressaltou que duas questões não devem ser negligenciadas: financiamento e regulação.
Os financiamentos, ele disse, precisam ser mais baratos e mais diversificados para reduzir custos, enquanto as regulamentações devem ser aplicadas para garantir que a energia eólica continue competitiva.
Talita Porto, conselheira da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), destacou a ideia de que os regulamentos devem mudar em paralelo com a tecnologia para incorporar as mudanças que estão sendo exigidas pelos consumidores finais.
Ela lembrou que o Brasil já está estudando mudanças na legislação para introduzir o comércio de energia em blocos por hora até 2020. Mas ela afirmou que a energia eólica ganhou grande competitividade desde que foi admitida nos leilões federais em 2008 – já que os preços caíram de US$ 95/MWh para cerca de 20/MWh no último leilão – e está bem posicionada para liderar a transição.
“O desafio hoje é como expandir o setor de forma sustentável e, corretamente, a eólica parece estar em condições de liderar a transição energética no Brasil”, disse Porto.
Para Jean-Paul Prates, presidente do Cerne, a região nordeste do Brasil já está provando o que a energia renovável pode fazer em termos de mudança social e econômica, pois proporciona novos empregos e energia abundante para a região. Mas, mesmo que novas tecnologias disruptivas precisem ser assimiladas, o setor de energia eólica no Brasil começará a mudar à medida em que amadurece.
Novos jogadores entrarão no mercado, como as empresas de petróleo, disse Prates, referindo-se à francesa Total, a brasileira Petrobras e a anglo-holandesa Shell, que já estão comprando ativos ou se preparando para participar dos leilões de energia governamentais.
“O que elas querem? Eles estão buscando produzir energia mais barata para oferecê-la como a melhor opção para a sociedade”, disse ele.
Mas Prates também apontou que o mercado eólico do Brasil agora está maduro o suficiente para começar a pensar em repontenciar e modernizar os mais antigos dos 6.600 aerogeradores atualmente em operação. Finalmente, ele disse, o Brasil precisa começar a preparar os regulamentos para a energia eólica offshore.
“Tenho certeza de que nos próximos 10 anos os litorais dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte serão os mais competitivos do mundo para a energia eólica offshore”, disse ele.
Prates concluiu sua apresentação alertando que o setor de energia eólica do Brasil também precisa olhar para as desvantagens da mudança disruptiva, como o custo para o emprego, um dos mais importantes benefícios sociais que a indústria eólica trouxe para o Brasil. Na década passada, o setor criou mais de 100.000 postos de trabalho para construir sua capacidade de mais de 13GW no Brasil. Mas mesmo os trabalhadores altamente qualificados precisam estar preparados para a mudança, pois as novas tecnologias exigem novas habilidades. “A principal preocupação é como superar esse efeito, já que as tecnologias disruptivas normalmente realocam e dispensam mão de obra. Isso é algo que as empresas, investidores e governos precisam trabalhar juntos para evitar. Caso contrário, o desenvolvimento da indústria eólica pode causar um problema social ”, disse ele.