Reduções na geração eólica e solar centralizadas têm impacto direto sobre geradores, compromete novos projetos e acende alerta sobre o futuro da matriz energética limpa no país
“Nosso papel não é culpabilizar nenhuma fonte. Todas têm seu espaço no setor energético. Nosso objetivo é buscar o equilíbrio entre elas”, afirmou o presidente do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE), Darlan Santos, ao debater os efeitos do curtailment na geração renovável, durante a 1ª reunião ordinária de 2025 da Comissão Temática de Energias Renováveis (COERE), da Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (FIERN).
O termo curtailment refere-se à interrupção ou redução da geração de energia em usinas eólicas ou solares, por solicitação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Essa solicitação pode envolver a parada completa da unidade por tempo determinado e/ou a limitação da sua geração. O conceito também é equivalente ao termo constrained-off.
Durante sua fala, Darlan abordou aspectos técnicos, regulatórios e estratégias para o melhor aproveitamento energético no Rio Grande do Norte. Ele destacou que os cortes começaram em agosto de 2023 e atingiram um recorde histórico em fevereiro de 2025.
Entre as causas do problema, o presidente do CERNE apontou o aumento da geração por hidrelétricas e termelétricas, que têm reduzido o espaço para a inserção da geração eólica e solar na matriz, além do desequilíbrio entre fontes de geração distribuída e centralizada. “Temos um forte crescimento de fontes renováveis fora do mercado regulado, não gerido pela ONS e pela ANEEL”, observou.
Segundo Darlan, somente em 2024, os cortes causaram um prejuízo de R$ 1,6 bilhão ao setor de energias renováveis. Em 2025, a situação se agravou, com perdas superiores a R$ 2 bilhões. “O curtailment gera um impacto direto sobre os geradores, especialmente no Nordeste do Brasil, afetando os custos de O&M, novos investimentos, ampliações, aumentando o risco jurídico e desarticulando a cadeia de produção direta e indireta do setor”, ressaltou.
No campo econômico, a região Nordeste também sofre com a perda de receitas municipais, como o ISS, a redução de novos investimentos e a diminuição dos índices de empregabilidade, entre outros impactos.
Como alternativa para mitigar o problema, Darlan defendeu a adoção de estratégias que aumentem a demanda regional por energia, como iniciativas de armazenamento e incentivo ao consumo local. Ele citou, como exemplo, a implantação de hubs energéticos voltados ao hidrogênio verde (H2V) e a datacenters, além de ações técnicas como a instalação de compensadores, que poderiam ampliar a inserção das renováveis no sistema.
A reunião da COERE também contou com a apresentação dos dados mais recentes do Índice de Confiança das Energias Renováveis (ICER), feita pelo analista técnico do Observatório da Indústria Mais RN, Pedro Albuquerque. “Registramos o índice há mais de um ano, em parceria com a COERE. No último levantamento, atingimos o menor patamar desde o início da série histórica, com 66,6 pontos”, informou.
Entre os fatores que explicam a queda na confiança do setor, o analista destacou o curtailment da geração centralizada. Outros aspectos, como desafios de infraestrutura, alta dos juros e insegurança jurídica, também foram apontados na sondagem.