Relatório da InfluenceMap, que utiliza a base de dados Carbon Majors, também afirma que as companhias expandiram as suas operações no período, ao invés de diminuir, como apelam ativistas e cientistas climáticos
Oitenta por cento das emissões globais de CO2 produzidas desde o Acordo de Paris, assinado em 2015, até o ano de 2022, são atribuídas a um pequeno grupo de 57 empresas pertencentes aos setores de petróleo, gás, carvão e cimento, aponta um novo relatório da InfluenceMap que utiliza a base de dados Carbon Majors.
O levantamento vai além e destaca ainda que mais de 70% das emissões globais de gás carbônico que aconteceram desde a Revolução Industrial podem ser atribuídas a 78 entidades produtoras corporativas e estatais, e apenas 19 entidades contribuíram com 50% destas emissões.
Historicamente, as companhias pertencentes a investidores são responsáveis por 31% de todas as emissões monitorizadas pela base de dados, sendo a Chevron, a ExxonMobil e a BP as 3 maiores contribuintes.
As empresas estatais estão ligadas a 33% do total, com Saudi Aramco, Gazprom e National Iranian Oil Company na liderança. Os estados-nação respondem pelos 36% restantes – a produção de carvão da China (14%) e a antiga União Soviética (6,8%) são as principais.
Cinquenta e oito das 100 companhias estavam associadas a emissões mais elevadas nos sete anos após o Acordo de Paris do que no mesmo período anterior. Este aumento é mais pronunciado na Ásia, onde 13 em cada 15 (87%) avaliadas estão ligadas a emissões mais elevadas em 2016-2022 do que em 2009-2015, e no Oriente Médio, onde este número é de 7 em cada 10 empresas (70%).
Nas demais regiões os números são os seguintes: Europa -13 de 23 empresas (57%): América do Sul – 3 de 5 (60%); Austrália – 3 de 4 (75%); África – 3 de 6 (50%); América do Norte – 16 de 37 (43%).
A base de dados Carbon Majors também constatou que a maioria das empresas estatais (65%) e de propriedade de investidores (55%) expandiram as suas operações de produção desde o Acordo de Paris.
“É moralmente repreensível que as empresas continuem a expandir a exploração e produção de combustíveis de carbono, apesar do conhecimento, já há décadas, de que os seus produtos são prejudiciais”, disse Richard Heede, que criou o conjunto de dados Carbon Majors em 2013, ao The Guardian.
Heede acrescenta ainda que os produtores de combustíveis fósseis têm a obrigação moral de pagar pelos danos que causaram e exacerbarampor meio das suas táticas protelatórias, e citou a proposta feita por Mia Mottley, a primeira-ministra de Barbados, para que as empresas de petróleo e gás contribuam com pelo menos US$ 0,10 por cada dólar para um fundo de perdas e danos.
“Esta é uma ameaça à civilização como a conhecemos. Se a situação atual continuar, não teremos um planeta habitável para os nossos filhos e netos. Devemos reunir vontade política e empresarial para evitar a pior ameaça que as mudanças climáticas representam. Nós podemos fazer isso.”