Região reforça protagonismo na transição energética com obras em cinco estados com ampliação da rede elétrica que enfrenta gargalos de escoamento da energia renovável.
O Nordeste brasileiro foi destaque no Leilão de Transmissão nº 4/2025, realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) nesta sexta-feira (31). Somados, os investimentos previstos para a região ultrapassam R$ 1,5 bilhão, contemplando projetos no Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, Pernambuco e Paraíba. As obras reforçarão a infraestrutura elétrica e garantirão maior segurança e estabilidade para o escoamento da energia renovável.
De acordo com a ANEEL, o leilão alcançou R$ 5,53 bilhões em novos investimentos e uma economia estimada de R$ 11,5 bilhões aos consumidores, em função dos deságios médios de 47,98% nas propostas vencedoras. No Nordeste, as obras devem gerar milhares de empregos diretos e indiretos e reduzir gargalos no sistema de transmissão — um dos principais fatores que têm causado o curtailment, ou cortes na geração de energia limpa por falta de escoamento.
No Rio Grande do Norte, o Lote 7, arrematado pela Axia Energia (antiga Eletrobras CGT Eletrosul), prevê R$ 805 milhões em investimentos para a construção das subestações Açu III e João Câmara III, ambas de 500 kV e equipadas com compensadores síncronos que aumentarão a capacidade e estabilidade do sistema. As obras devem gerar cerca de 2,3 mil empregos e têm previsão de conclusão em 42 meses.
Já o Lote 2, arrematado pela Rialma Administração e Participações S.A., destina R$ 788,6 milhões à implantação de 336 km de linhas de transmissão e de uma nova subestação 230 kV, abrangendo Maranhão, Pernambuco, Paraíba e Piauí. No território piauiense, as obras incluem os trechos Caxias II – Teresina II e Teresina – Teresina III, que reforçarão o fornecimento elétrico na capital e no centro-norte do estado — regiões estratégicas para o escoamento da energia renovável produzida localmente.
Embora o resultado represente um avanço importante para o sistema elétrico nacional, o Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (CERNE) avalia que o país demorou a agir diante de um problema que já ameaça a sustentabilidade e a previsibilidade do setor. O chairman do CERNE, Jean Paul Prates, destacou que o certame traz um alívio necessário aos geradores de energia renovável, mas reforçou que a medida é tardia frente à gravidade da situação.
“Apesar de ainda considerar que esse leilão demorou demais para ser organizado e anunciado, é evidente que ele poderá trazer alívio à situação crítica em que se encontram os geradores de energia renovável, principalmente na nossa região”, afirmou Jean Paul Prates.
O leilão é visto como um passo essencial para mitigar o curtailment — os cortes obrigatórios na geração de energia renovável por falta de capacidade de escoamento. No Nordeste, o problema tem se intensificado, levando ao desperdício de energia limpa e à perda de competitividade de parques eólicos e solares.
As obras abrangem a construção e modernização de 1.081 km de linhas de transmissão, além da instalação de subestações com cerca de 2.000 MW de capacidade de transformação em todos os estados brasileiros contemplados pelo leilão.
Para o presidente do CERNE, Darlan Santos, a expansão da transmissão precisa ser acompanhada por uma estratégia integrada que una geração e consumo local, ampliando o aproveitamento da energia limpa e fortalecendo a economia regional.
“A atração de investimentos numa política regional de desenvolvimento, associada a cadeias de valor na região Nordeste se configura como uma possibilidade real frente à alta demanda de energia renovável associada a setores eletrointensivos. A região do Brasil Equatorial pode estar na vanguarda para a implementação de cadeias verdes, agregando investimentos e empregos na região.”
Segundo o CERNE, a ampliação da rede de transmissão cria as condições necessárias para consolidar o Nordeste como polo de industrialização verde, atraindo segmentos como data centers, hidrogênio verde e metalurgia de baixo carbono, e integrando o potencial energético da região à nova economia de baixo carbono.
Encerrando sua análise, Jean Paul Prates destacou a importância de um olhar estruturante sobre o futuro do setor elétrico e alertou para a urgência de medidas que garantam previsibilidade e segurança jurídica aos empreendedores.
“Esperemos que o Ministério e as demais entidades reguladoras do setor elétrico agora se debrucem sobre as condições e compensações referentes aos cortes em contratos firmes de geração e na sua receita esperada. Os empreendimentos estão praticamente arruinados e, se isso persistir, haverá ainda mais choro e ranger de dentes nos nossos estados, com demissões e retrocessos socioambientais incalculáveis”, concluiu.
