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Mulheres na transição energética: renováveis abrem caminho para força feminina em setor historicamente dominado por homens

No Brasil, fabricantes e redes profissionais estão apoiando as carreiras das mulheres para reduzir a lacuna de gênero no setor

Vanessa Oliveira / Um Só Planeta
Link para a matéria: https://umsoplaneta.globo.com/financas/negocios/noticia/2023/08/14/mulheres-na-transicao-energetica-renovaveis-abrem-caminho-para-forca-feminina-em-setor-historicamente-dominado-por-homens.ghtml

Mais expostas às consequências das mudanças climáticas, as mulheres estão pouco representadas no setor de energia, segmento que ocupa a linha de fogo no enfrentamento às emissões de gases de efeito estufa, vilões do aquecimento global. Mas a transição energética, que demanda a redução do uso de combustíveis fósseis e expansão de fontes renováveis, deve acelerar não só o desenvolvimento de energias menos poluentes, mas também expandir as oportunidades para as mulheres. Globalmente, elas representam 32% da força de trabalho em energia renovável, em comparação com 22% na indústria de petróleo e gás.

De acordo com o relatório World Energy Transitions Outlook 2022 da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), até 2030 haverá 139 milhões de empregos no setor de energia em todo o mundo. Desses, 38,2 milhões estarão em energia renovável e 74,2 milhões em outros setores relacionados à transição energética. “Isso oferece uma chance de requalificar e aprimorar uma força de trabalho de transição variada e equilibrada. Aproveitar a participação das mulheres como agentes de mudança pode encorajar, influenciar e acelerar a transformação energética”, avalia a agência.

Apesar da perspectiva positiva, as mulheres ainda ficam atrás dos homens em cargos de liderança e técnicos no setor de energia renovável, diferença alimentada pelo acesso desigual à educação, o acesso limitado às habilidades técnicas e oportunidades de treinamento, bem como políticas e práticas injustas das empresas, entre outros fatores. Mas isso está mudando. No Brasil, fabricantes e redes profissionais estão apoiando as carreiras das mulheres para reduzir a lacuna de gênero no setor.

Com mais de 20 anos de atuação no setor de renováveis, a AES Brasil é a primeira companhia brasileira a ter um complexo de geração de energia eólica totalmente operada por mulheres, situado entre os municípios de Tucano, Biritinga e Araci, no interior da Bahia e inaugurado no começo deste ano. Para compor a força de trabalho feminina formada por três dezenas de funcionárias, a empresa atuou em parceria com Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) da Bahia na capacitação das profissionais.

A experiência será replicada para o complexo eólico Cajuína, no Rio Grande do Norte, que deve começar a operar este ano. Mais de 70 mulheres de diferentes formações, como eletrotécnica, mecânica e segurança do trabalho, e vindas de 18 municípios do estado, participaram da especialização técnica com foco em manutenção e operação de parques eólicos oferecida pela AES e o Senai-RN. “Temos notado um avanço dos cursos de especialização e de formação nessa área, que estimula inclusive a transição de carreira para muitas mulheres, com um olhar mais sistêmico”, afirma Andrea Santoro, gerente de sustentabilidade da AES, empresa que intensificou seu programa de equidade, diversidade e inclusão nos últimos três anos.

“Mesmo oferecendo o primeiro curso técnico voltado para mulheres com foco em eólicas com nosso programa em Tucano, na Bahia, nós nos surpreendemos em ver mulheres muito bem preparadas, com competência técnica, e que estavam apenas buscando uma oportunidade, uma porta se abrindo para elas entrarem nesse mercado”, avalia. Além da capacitação de mulheres para atuar no setor, a empresa fomenta projetos sociais voltados para a segurança hídrica e inclusão produtiva na área sob influência dos complexos.

As investidas integram os esforços ESG da empresa, que abrangem diversidade, equidade e inclusão, entre outras iniciativas, aumentando inclusive a participação de mulheres em cargos de liderança. Do quadro geral de colaboradores da empresa, atualmente, 30% são de mulheres. Em 2021, o número de mulheres na AES Brasil avançou 32% no corpo geral da companhia, que se impôs a meta de ter 30% dos cargos de alta liderança ocupados por mulheres até 2025, taxa atualmente em 25%. Para a executiva, a maior presença feminina só é atingida a partir de esforços para a valorização de talentos tanto em novas contratações quanto no pipeline de sucessão.

“Precisamos olhar para a questão do ‘viés inconsciente’, trabalhando com os gestores e as áreas de recrutamento para que as seleções sejam feitas de forma ‘consciente’ e não olhando para gênero, idade ou outra afinidade. Por outro lado, também precisamos olhar para a questão educacional e os cursos tradicionalmente procurados por homens. O setor elétrico é predominantemente masculino porque está ligado à engenharia, área ainda dominada por homens. Cabe às empresas que têm poder de contratação garantir que seus processos seletivos sejam inclusivos. E, acima de tudo, garantir que a inclusão faça parte da cultura corporativa”.

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