Vento, pastor da curva do mar

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No oceano, a força para a sustentabilidade do planeta

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável é um plano de ação colaborativo para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, tendo como alicerce o fortalecimento da paz universal. Levando em consideração o esgotamento dos recursos naturais e a degradação ambiental, exemplificados pela desertificação, secas, escassez de água doce e perda de biodiversidade, além da mudança climática e o aumento na temperatura global, que arriscam a sobrevivência de sociedade e de sistemas biológicos, foi criado o sétimo ODS relativo à energia limpa e acessível, a fim de “assegurar acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos e todas”.

Entre as intenções do objetivo, estão aumentar substancialmente a participação de energias renováveis na matriz energética global, fomentar a cooperação internacional e a infraestrutura para a produção de pesquisas e tecnologias de energias limpas – fontes naturalmente reabastecidas e que não lançam poluentes na atmosfera. Atualmente, as principais formas de produção energética limpa são a energia eólica, solar, maremotriz, geotérmica, hidráulica e nuclear, as quais ainda causam impactos ambientais; porém, não interferem na poluição em nível global.  Dessas matrizes energéticas citadas, a Energia Eólica consiste em uma torre com hélices presas, que captam a energia mecânica produzida pelo vento e, em seguida, há a transformação em energia elétrica. Hoje, essa estrutura é instalada em terra, conhecida como “onshore”, e no mar, chamada de “offshore”.

O mercado brasileiro está crescendo em termos de energia eólica onshore, mas a offshore ainda não foi desenvolvida no país. Levando em consideração que a implantação de usinas em terra pode causar alteração na paisagem, poluição sonora, interferência em transmissões de rádio e televisão, nasceu a necessidade de investir na modalidade de eólica no mar, fato que levou países como a Dinamarca, Reino Unido, Japão, Estados Unidos e Holanda a desenvolver o formato marítimo.

Diante desse novo cenário, a Petrobras criou o Projeto Piloto para a Implantação de Usina Eólica Offshore no Brasil e convidou o grupo de pesquisa “Criatividade e Inovação de Produtos e Processos de Energia Renovável” (Criação) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) para participar da iniciativa. Com a função de oferecer informações sobre a viabilidade técnico-econômica e detalhes de infraestrutura e logística, o projeto é coordenado pelo professor do Departamento de Engenharia de Produção (DEP), Mario Orestes Aguirre González. O docente conta que o convite surgiu devido à expertise da base de pesquisa, que hoje tem quase 20 dissertações relacionadas às matrizes energéticas eólica e solar, com apresentações em eventos internacionais, como no Japão, Suécia, Inglaterra e Alemanha.

Além da UFRN, a iniciativa envolve outras instituições de ensino brasileiras, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável por pesquisa nas fundações das turbinas. A Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é responsável pela rede de geração e distribuição de eletricidade, e a análise do recurso vento é de responsabilidade do Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis (CTGás-ER). Estes projetos fazem parte do programa de pesquisa e desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Segundo o diretor do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), Jean Paul Prates, o Rio Grande do Norte é o maior gerador de energia eólica do país, com a maior capacidade instalada e número de parques, sendo líder e referência nacional. “O debate da eólica offshore estava um pouco adormecido aqui porque diziam que temos muito potencial onshore a ser explorado e que a tecnologia do mar é mais cara. Na nossa visão, realmente ainda há um potencial em terra a ser desenvolvido, mas, isso não pode ser empecilho para abrir uma nova fronteira, que é completamente diferente do ponto de vista tecnológico”. Ele complementa apontando cuidados a serem tomados na modalidade de eólica no mar, como a criação de um marco regulatório, para concessão de uso e de licenciamento ambiental, por exemplo.

Mario Orestes Aguirre González relata que as análises vão durar o período de três anos, com previsão de término em 2020, e atualmente a equipe está verificando qual a infraestrutura do Brasil que pode favorecer a implantação da indústria eólica offshore. O trabalho começou com o conhecimento de tecnologias atuais e em desenvolvimento e, a pesquisa de campo nos estados do RN e do CE, onde foram levantadas informações sobre a infraestrutura existente. Além do mais, a pesquisa requer conhecer como ocorreu o desenvolvimento da tecnologia em outros países, com os precursores da área, que são Dinamarca, Reino Unido e Alemanha. Em paralelo está sendo modelado o projeto da cadeia de valor da indústria de energia eólica offshore do Brasil. Na opinião de González, além das questões ambientais, há vantagens econômicas na eólica marítima. “Em 2014, o preço do megawatt-hora estava saindo a cerca de 800 reais no Reino Unido e, em setembro de 2017, baixou para 290 reais. A tendência é que caia mais e torne-se a energia mais competitiva”, analisa, sobre a redução de custo da energia eólica.

Energia Eólica

 A energia eólica é obtida por meio da energia cinética, que vira energia mecânica, com o movimento das pás da torre, e depois é transformada em energia elétrica. Na tecnologia da turbina, a Dinamarca é o berço dos seus componentes, mas, na parte de implementar e gerar a eletricidade no mar, o Reino Unido possui maior capacidade instalada. Os Estados Unidos implantaram o primeiro parque eólico offshore ano passado, Japão faz uso da matriz há seis anos e seguem na corrida tecnológica países como a Coreia do Sul, China, Holanda.

Conforme a ABEEólica, em 2017, foram registradas 508 usinas eólicas instaladas no Brasil, com capacidade de 12,77 GW, o que levou à redução de 20,97 milhões de toneladas de dióxido de carbono, equivalente à poluição produzida por cerca de 16 milhões de automóveis, ou seja, mais que duas vezes a frota de veículos de passeio da cidade de São Paulo. No ano passado, os estados com maior capacidade instalada foram Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, Maranhão e Ceará. Já em termos de geração por estado, o RN se destacou na liderança ao longo de 2017.

Criação

“Criatividade e Inovação de Produtos e Processos de Energia Renovável” (Criação) foi idealizado em 2010 e iniciou suas atividades de ensino, pesquisa e extensão em 2011. Ligado ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção (PEP) e ao Departamento de Engenharia de Produção, conta com a participação de 42 alunos, sendo 16 entre mestrandos e doutorandos, além de estudantes das graduações em Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica, Meteorologia, Engenharia Elétrica, Design, Engenharia de Materiais e Psicologia. O grupo tem o objetivo de desenvolver novos produtos, processos e o desenvolvimento de cadeias de valor em energias renováveis, com foco nas necessidades da sociedade.

Fonte: Williane Silva | Ascom/Reitoria UFRN