Setor eólico cresce e amplia busca por especialistas

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Matéria especial do jornal Valor Econômico traz uma entrevista com Jean-Paul Prates e mostra como o Brasil atingiu o ranking de quinto país no mundo que mais emprega em eólicas.

Foto: reprodução/Valor Econômico

Foto: reprodução/Valor Econômico

O setor de energia eólica emprega no Brasil cerca de 41 mil pessoas – entre postos diretos e indiretos, segundo dados da International Renewable Energy Agency (Irena). O crescimento, de acordo com a agência, é de 14% em relação a 2014.

Somos o quinto maior empregador do mundo, atrás de China, Alemanha, Estados Unidos e Índia, e o número de vagas não dá sinal de que vai encolher nos próximos anos. Ao contrário.

Estimativas da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), que leva em conta o cálculo de 15 empregos criados para cada megawatt instalado, mostram que 43,6 mil novas vagas serão criadas no setor em 2016. Em 2017 serão mais 36,5 mil. “Essa curva de crescimento da eólica é feita com base nos leilões contratados e não em perspectiva de venda”, enfatiza Élbia Gannoum, presidente da ABEEólica. “Neste momento estão sendo construídos nove gigawatts para entrar até 2018.”

Os profissionais demandados são os mais variados, desde técnicos até gestores. O difícil é precisar onde os empregos serão criados. A conta não é simples, porque a cadeia está espalhada pelo país. Então, um megawatt instalado no Rio Grande do Norte, por exemplo, pode criar emprego em uma fábrica no Sudeste.

Jean-Paul Prates, diretor geral do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia (Cerne), afirma que, na fase da construção, praticamente todos os empregos são gerados no local – exceção feita aos equipamentos construídos em fábricas fora do Estado.

Além disso, diz ele, um terço do investimento médio de R$ 5 milhões feito por megawatt é destinado a compras locais. “Pela mera presença humana, que requer alojamento, alimentação e manutenção dos mais diversos itens”, afirma.

No Estado potiguar, que tem a maior potência instalada do país, foram investidos, segundo Prates, R$ 15 bilhões nos últimos dez anos – valor decorrente da criação de parques eólicos. “Em uma conta simples, se imaginarmos que um terço disso é gasto em compras locais, já foram R$ 5 bilhões injetados no Estado nesse período”, afirma Prates.

Os locais mais beneficiados pela indústria eólica são o litoral norte do Estado, a região do Mato Grande e Serra de Santana. “João Câmara e Parazinho, na região do Mato Grande, são duas cidades que viviam basicamente de Bolsa Família e agricultura de subsistência. Hoje têm uma economia muito mais pujante”, afirma Prates.

Na visão dele, a indústria eólica está conseguindo compensar, desde 2009, a queda da indústria do petróleo no Estado e ainda consegue manter as pessoas em suas cidades locais, gerando emprego onde moram, e não apenas nos principais municípios do Estado.

Para dar conta de atender a geração de empregos do setor – e graças também à política do governo federal de investir em capacitação -, o número de escolas técnicas federais (IFRN) passou de duas para 20 nos últimos anos. Entre os cursos há o tecnólogo em energias renováveis.

No Ceará, quarto Estado em potência instalada, o impacto da energia eólica na economia local é estimado em R$ 6 bilhões. Até 2024, cerca de R$ 18 bilhões devem ser investidor no setor de energias renováveis no estado e 18 mil novos empregos devem ser criados no segmento de energia eólica.

“Estamos trabalhando fortemente a atração de toda a cadeia produtiva”, afirma Nicolle Barbosa, secretária de desenvolvimento econômico do Ceará. “Hoje já temos no Ceará indústrias de pás eólicas, aerogeradores, torres de concreto e metálica, elevadores e escadas, além de grandes empresas especializadas na construção de parques eólicos.”

Para capacitar os profissionais que atuam no setor, o estado do Ceará conta com 118 escolas profissionalizantes, além de mestrado em energias renováveis. “As empresas, em parceria com o Sistema S, formam constantemente turmas de profissionais especializados na área”, afirma Nicolle.

No Rio Grande do Sul, terceiro Estado em potência instalada, Ricardo Rosito, presidente do Sindicato das Indústrias de Energia Eólica do RS (Sindieólica), não sabe precisar o número de pessoas empregadas pelo setor no Estado. “Existem muitos empregados temporários e terceirizados devido à construção dos parques”, diz. “E como faz cinco leilões que o Rio Grande do Sul não consegue trazer investimentos para o Estado, houve um decréscimo nos empregos da construção, etapa que mais emprega.”

Na fase da construção, estima-se que cada megawatt instalado gere 15 novos postos de trabalho. Depois, com o parque já instalado, a estimativa de vagas por megawatt cai para quatro.

Hoje, Rosito diz que as contratações estão paradas. “Acreditamos que o número de vagas vai crescer no próximo ano, porém não podemos precisar a quantidade, visto que os investimentos decorrem da viabilização nos leilões.”

Em Santa Catarina, sétimo Estado do país em potência instalada, o impacto da energia eólica na economia local é bastante pequeno, segundo Edilson Godinho, diretor de trabalho, emprego e renda da Secretaria de Estado da Assistência Social. “Há um mercado de trabalho promissor, mas ainda é muito pequeno”, diz.

Fonte: Valor Econômico | Adriana Fonseca